É o mesmo anjo que, todos os dias, me acorda com um sopro na nuca. Aquele anjo que briga comigo pra que eu coma direito. Um anjo que, quando eu conheci, não teve magia, nem diferença, nem necessidade. Foi anjo que me construiu, nesse amor maluco e verdade. O anjo que eu conquistei, pela certeza de que esse momento ia existir. Não diferente, nem criado, nem montado. A pureza desse dia, eu já tinha no meu peito. Talvez eu o tenha conquistado por querer viver esses momentos. Talvez eu tenha me enganado e tenha desejado os momentos para estar em companhia do anjo. Não sei. Não conheço o momento sem o anjo, o anjo fora do momento. Sinfonia uníssona de perfeição. Impávido abraço de feliz. Um anjo só pode ter nome de anjo. Meu anjo. Releio esse momento mentalmente e lembro da narração que fiz a mim mesma há uns meses atrás. Queria ler meu futuro, mas acabei por escrevê-lo. E cá estou nas minhas palavras. Eu, com o que desejei e com tudo mais que o anjo mágico me surpreendeu nesses sete meses. O prazer é tão pleno que nem sei o que é mais feliz. Se é ele lembrar de mim, até quando quer me esquecer. Se é saber meus gostos e ter a maravilha de me mostrar isso a cada sonho de dia. É ele conhecer meus pedaços, meus traços. Narrar nossos amassos... Com olhos de criança, com luz diamante. E saber os detalhes, que botão foi arrancado. Que trapo caiu. Reservo-me um minuto pra sorrir.
É por discutir comigo e terminar rindo de mim. É por não agüentar me ver sofrer. É por ter um cheiro inconfundível de cinco da manhã de primavera. É pelo gosto de nuvem branca que esconde na boca. É por sair da minha casa sem falar comigo e jogar um bilhete que diz “vem aqui fora, que eu tô querendo te beijar”. E eu saio. Entre lágrimas de amor e risos de violência, ele me beija. E sem sons, sabemos que o amor nos congela ali. Nosso amor construído. Sem diferenças. Sem grandes gestos. Um amor diário. Um amor de recíproco. Um amor que ele não sabia que ia ter. Que eu já tinha na cabeça antes de conhecê-lo. Um amor de amar minhas manias. Um amor de entender meus bicos. E ver beleza em lágrimas por filmes. Um amor que admira meu instinto revolucionário e que não se importa com as minhas filosofias de aviões. Um amor de curar loucuras. Um amor por língua presa. A língua presa dele. Presa à minha.
(Sim... Ainda vou lembrar da narrativa desse dia. Na vivência, ele está sendo bem melhor que os arrepios que senti na minha cadeira ao imaginá-lo).
A gente ri da noite passada. Nós dois aumentando o calor com o calor do corpo. Uma garrafa de tequila pelo amor no México... Enquanto ele vira a cabeça de gargalhar, eu fito seu som, sua cor. Quando se sente desacompanhado em seu ato, me aperta contra o peito. Diz no vento pra chegar a mim: “Sinto a sua falta de rir comigo. Nem penso em não te ter. O que foi?”... Meu vento leva pra ele: “Amo tua boca sorrindo. Amo teus pedaços em mim. Amo tudo”. Afasto a minha cabeça do coração, embebedo meus cabelos e passo a língua no seu gosto. Nada mais se diz naquela janela de luz. Somos um só. E cada um. A nossa solidão não me incomoda. Amo nos fazer companhia. Basta o um que somos. Não há solidão com dois.
7 meses.
05/01/2008
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domingo, 4 de janeiro de 2009
o que pode ser real.
Estou na praia. Não tem quase ninguém. Sentada na cadeira de óculos escuros, só vejo o sol subindo no céu e o vendedor de côco passando a minha frente com um cachorro ao lado. Sem vontade alguma de me mexer, eu acendo um cigarro. Movimento apenas o antebraço apoiado na cadeira. E lentamente, repito esse ritual mais algumas vezes. Sei que eu não estou sozinha, mas a paz que me toma é tão grande, que espreguiço a mente antes de pensar em quem me acompanha. E, nisso, já me pego pensando na temperatura gostosa da água e em como seria magnífico se eu pudesse estar deste mesmo jeito, dentro dela. Lembro não mais que de repente, que estou sentada em frente à casa que velou meu sono durante a noite. Cheguei aqui ontem e não posso dizer que minha memória seja tão astuta ao ponto de saber exatamente o que fiz ontem para estar tão relaxada. E esquecida. Sei, de novo, que não estou sozinha. Mas não me atenho aos detalhes. A companhia do mar me basta no momento. O sol resolve me espiar de frente. Nesse amor platônico que mantemos um pelo outro, só me interessa a luz. Nada a retribuir, a não ser a minha imagem. Um vento frio a noroeste me distrai. Só fecho os olhos pra viver. Quanto momento há nessa magia. O calor. O calor do sol. O aconchego dos pés mergulhados na areia. O encaixe macio dos óculos no rosto. A inércia, que dota o corpo de inexistência. Eu não existo nesse ambiente. E isso é um gozo à vida. Não estou sozinha. Mas que me importa outra massa, se a minha flutua? Adoro o sentimento do invisível. Quero mergulhar meu cabelo no sal do mar. Ah! Por que a onda não vem me pegar? Pouparia a mexida do pé. Pouparia a mudança do cenário perfeito. Tô com preguiça de pensar. O céu bem que podia pensar por mim. Mas ele está ocupado demais me abraçando de azul. Uma mão molhada me toca. Letárgica demais pra me assustar. Nem sujeito das minhas orações eu quero ser. Penso em abrir o olho de soslaio... Mas me vem à cabeça a divertida pronúncia da palavra soslaio e todas as formas que ela pode se encaixar num dizer. Ameaço um sorriso. A vontade de gargalhar não é obedecida pelo cérebro. E me acometo da mão na minha mão. A luz do sol a me cegar e eu a abrir os olhos. Quem ousa me tirar do meu nirvana astral? Um anjo de asas vermelhas me sorri. Sim, eu o amo por ter me acordado. A sua paz celestial me arrepia a perna. Em transe com a natureza, me deixo ser conduzida por ele. Nem sinto o esforço do levantar. Ele ri do meu silêncio. Eu rio pra ele. Sim! Achei minha felicidade. Nada além de umas folhas que dão côco a balançar. Umas conchas entre os dedos que caminham. A música das ondas molhadas na areia. A areia molhada de mar. Meu sonho real. Na preguiça de pensar, eu pensei o anjo. O gelo da água nas canelas me desperta. A ousadia do anjo me intimida. E me excita. Absorta em meus pensamentos malignos, sou tomada por uma asa, que me abraça e me voa pro céu. O anjo não diz. Muita preguiça me impede de falar. Será que ele pode ler meus pensamentos? Se, maluca, deve pensar. Mas me carrega mesmo assim. Seria uma tentativa de me salvar? E dele, quem pode? Uma frase cala meus questionamentos. “Eu amo te ver dormir ao sol”, sibila o anjo nos meus lábios. Um hálito de amor me invade sem licença. O anjo me ama. E me ama ao sol. E ama o meu dormir. O anjo não me é novidade. Ahhhh! Quero abrir os olhos pra saber, quando ele me foi inédito. Anjo malandro. O prazer dos olhos fechados em seu pescoço adia o contato. Anjo macio. Anjo maluco. Anjo, por si só. Anjo meu. Será que posso ser amante de um anjo? Em comunhão com a adrenalina do meu estômago, eu conheço o anjo.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
você agora.
Hoje eu acordei pra você. Acordei pra te fazer perder e me achar à frente. Eu me pintei de cores de seduzir suas pernas nas minhas cadentes de te fazer cair do rebolado. E me vesti de amores pra te prender no meu peito, mesmo que você, meio sem jeito, se prenda nos arames do nosso medo inconstante. Coloquei imãs na pele pra te atrair à minha parede carne quente do seu calor sensível. Corei o hálito do sabor do seu desejo que só quer o meu desejo, mas não sabe me dizer. Eu te beijo. Com a mesma boca que despertou pro seu sabor, que sente falta da sua língua e que passeia pelo seu pescoço sem medidas. Nesse nosso ritmo descompassado, com esse sentimento velado, eu só quero te seduzir com aquilo tudo que você quer ser seduzido no meu corpo. Não quero mais saber dos nossos amanhãs, eles já me fazem mal. Não quero te dar importância. Quero esquecer seus números, suas mãos e sua cor. Não quero lembrar da sua pele na minha e das matizes inebriantes dos seus olhos-estrela. Mas eu quero imprimir na ponta dos seus dedos todas as impressões perdidas na minha digital. Hoje eu acordei pra você. Hoje eu decidi não te perder. Mas a chuva desfez meus planos. Borrou meus desenhos cor púrpura, desfez meus laços, molhou meus sapatos. Hoje eu acordei pra você. Mas o mundo dorme lá fora.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Você ainda vai tropeçar no seu orgulho e cair na minha cama
Eu tenho um buraco aberto no peito. Um prego foi responsável por ele. A ausência do prego por muito machucou de morte esse peito aberto. E você se achou no direito de pegar sua faca e reabrir essa ferida. Você chegou de mansinho, me colocou no seu colo e achou que podia brincar. Esburacar, meu amigo, não é brincadeira. Um peito aberto merece respeito. Uma dor merece atenção. Mas você só conseguiu olhar por sobre esse vão e esqueceu de enxergar o peito que o forma. Muitas dores são sem valia. Muitas palavras nada dizem. Mas eu quis acreditar. Quis crer que você não tinha uma faca. A ilusão me deu imagens agora desagradáveis de um sopro acalentador na ferida recorrente. Eu me entreguei, você me usou. E estabelece um jogo diário sem time, sem dupla, sem regras, sem padrões. Não movi minhas peças, mas você continuou fazendo seus pontos. Eu não sou um tabuleiro de xadrez. Tire suas mãos sujas de lama da minha côxa. Arranque dos meus quadris seus olhar de desejo reprimido. Destrua as palavras dúbias que ainda moram no meu ouvido. Não me deixe mais permitir você me invadir. Eu me ative a fios de teias, você as teceu sem licença. A queda, meu amigo, não faz parte de mim. A fumaça do seu cigarro não vai dissipar a impureza do seu caráter. O encontro de retinas é sombrio. E você tinha uma faca. Fez uso dela sem parcimônia e esqueceu que feridas abertas incomodam. Você tem, agora, suas mãos sujas com meu sangue. Pode disfaraçar, lavar, limpar, mas o cheiro do metal ensanguentado não vai sair de você. Você ainda vai lembrar do som do meu sorriso e da cor da minha escova de dentes. Seu jogo não me engana mais, não me perturba mais. Estabeleça quantos contatos telepáticos quiser. Pule na minha mesa e rasgue meus papéis. Atropele meus passos sem pressa, sem medo. Conte segredos ao vento pra que eu possa escutar. A ferida faz parte de mim. Sua faca não me mete mais medo. Eu sentei e fumo meu cigarro. Você ainda vai tropeçar no seu orgulho e cair na minha cama.
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