terça-feira, 25 de novembro de 2008

Jeans.

Recebi ontem seu embrulho, mas não tive tempo de abrir. Corri e na exaustão que é digna das noites, rasguei o papel de seda. E perdi a voz. Não tinha rispidez. Tava com a cor desbotada que só os anos colorem. Tinha aquele cheiro de adrenalina tão característico dos sonhos bem vividos. Perdi o som. Abri a imponente porta do armário e joguei com repúdio todos os ternos no chão. Arranquei com desdém aqueles casacos pomposos do cabide. Nada diziam com aquele jeito de perfumes importados e sapatos comportados. Aqueles braços polidos que um dia os vestiram estavam nus de vergonha. Nus de lágrimas. E eu sentei naquele carpete engomado e a retirei do embrulho. Parecia que gostava da cena passional que se passava ali naquelas paredes de meia luz. Guardava meus segredos em meio a matizes de azul. E eu perdi as estribeiras, quebrei cadeiras e bati nos espelhos de água dos copos. Essas diretrizes que nada tinham haver com aquele pacote me violentaram naquela janela de luz. E nada mais se dizia. Borrei aqueles olhos pincelados de escudo. Busquei nos bolsos motivos de ratificação. Achei aquele bilhete primaveril que você me deu no inverno passado. E minhas lágrimas quase apagaram a “felicidade de borboletas no estômago” escrita com lápis de cor. E achei nossa moeda velha de apostas e me senti abraçada por todo aquele desgaste. E antes de abotoar os botões, nosso cheiro me ensurdeceu num grito de saudade. E vi ali, naquele corredor sem fim, que eu não quero mais o golden dream. Eu acredito mesmo é em jaqueta jeans. E me emociona encontrar alguém com uma e são nessas pessoas que eu confio. Obrigada por me tornar confiável. Obrigada por me devolver a minha velha jaqueta jeans.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

recado de batom no espelho

Can you please leave?
And don't forget to remove your fingerprints from my hips.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Anúncio.

Cansada de pensar por nós dois, eu rasguei um livro. Cansada de sentir por você e por mim, eu silenciei a música. Resoluta em acabar com seus sonhos infundados, resolvi te contar. Eu sim, sou o começo do seu fim.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

você agora.

Hoje eu acordei pra você. Acordei pra te fazer perder e me achar à frente. Eu me pintei de cores de seduzir suas pernas nas minhas cadentes de te fazer cair do rebolado. E me vesti de amores pra te prender no meu peito, mesmo que você, meio sem jeito, se prenda nos arames do nosso medo inconstante. Coloquei imãs na pele pra te atrair à minha parede carne quente do seu calor sensível. Corei o hálito do sabor do seu desejo que só quer o meu desejo, mas não sabe me dizer. Eu te beijo. Com a mesma boca que despertou pro seu sabor, que sente falta da sua língua e que passeia pelo seu pescoço sem medidas. Nesse nosso ritmo descompassado, com esse sentimento velado, eu só quero te seduzir com aquilo tudo que você quer ser seduzido no meu corpo. Não quero mais saber dos nossos amanhãs, eles já me fazem mal. Não quero te dar importância. Quero esquecer seus números, suas mãos e sua cor. Não quero lembrar da sua pele na minha e das matizes inebriantes dos seus olhos-estrela. Mas eu quero imprimir na ponta dos seus dedos todas as impressões perdidas na minha digital. Hoje eu acordei pra você. Hoje eu decidi não te perder. Mas a chuva desfez meus planos. Borrou meus desenhos cor púrpura, desfez meus laços, molhou meus sapatos. Hoje eu acordei pra você. Mas o mundo dorme lá fora.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

não tem fim.

Ontem eu fui ao cinema e não quis levantar quando o filme acabou. Os créditos finais me jogaram numa parede cálida e fria de solidão. Eu não queria que acabasse, eu não queria sair dali. Fiquei sentada, esperando a próxima sessão até o segurança me pedir para que eu me retirasse. Cheguei em casa e liguei o rádio. Tocava "full for your loving no more" e quando acabou eu me senti mal, mas não podia repetir a canção. E todo fim, pra mim, é assim. Independe de ser bom ou ruim, eu me sinto um filhote acuado, eu quero voltar, eu sangro. Eu tenho medo dessa felicidade não sabida, dessa tristeza velada me esperando na esquina. Odeio o dia seguinte. Por isso eu deixo pedaços no prato, esqueço sapatos e finjo não esquecer. Eu tenho medo. Eu me prendo com algemas, me martirizo com pensamentos e sofro. Eu não sei terminar, eu não sei despertar. Eu viajo e não quero voltar. Eu sonho e abomino o acordar. Eu me perco. Todo final me encharca de desespero. Mesmo ébria de certezas, eu não sei. Não sei mais o que vai ser de mim.