terça-feira, 30 de dezembro de 2008

No final.

Maldigo essas palavras na tua ausência.

Eu vou ainda vou duvidar e desacreditar e testar e querer. Depois do cansaço, eu nos quero fortalecidos. Eu vou jogar copos, bebidas e venenos. Eu vou te esconjurar. Depois do perdão, eu nos quero renascidos. Eu vou subir na mesa, tirar minha sandália, dançar até perder e gastar o meu sapato. Depois de todo o desgaste, eu nos quero renovados. Eu vou quebrar pratos, vasos, patos, gatos e até seu coração. Depois de todo o estrago, eu te espero consertado. Eu vou morder, lamber, untar, gozar, perder. Depois de todo o pecado, eu nos quero perdoados. E vão tentar. E por vezes conseguir. Mas antes da separação, nos espero inseparáveis. Eu pra sempre vou omitir, trair, permitir, fugir. Eu sempre serei insegura. E depois de todas as lágrimas, eu te espero imaculada. E no final do ato 5, eu nos quero imutáveis. E na tomada 4, eu nos quero infindáveis. Eu não acredito, eu repudio. Mas nos quero confiáveis. Vc longe, eu perto. E nos quero tangíveis. Eu burra, vc vazio. E nos quero pensáveis. Na exaustão das minhas letras mal escritas, quero você pedaço de mim. No final, eu não te espero mais. Mas continuo na cama.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal.

Porque eu adoro luzinhas nas árvores piscando. Porque as pessoas mudam o jeito de olhar. Porque as ruas ficam mais vazias e os restaurantes mais lotados. Porque as pessoas se permitem (pequenos luxos, extravagâncias, mimos e revistas). Porque eu adoro Papai Noel de chocolate. Porque me emociona a pureza dos meus primos que acreditam num velhinho de trenó distribuindo presentes. Porque me acalma o regozijo dos meus tios em serem papais e mamães noéis. Porque me acalenta pensar que alguns desejos de muitas pessoas vão se realizar. Porque se pode ouvir músicas natalinas nos banheiros dos shoppings. Porque todos os programas de televisão se passam no natal. Porque os filmes de Hollywood ficam mais bonitos. Porque o sorriso ocupa todos os rostos. Porque eu não gosto de peru. Porque eu adoro ganhar presente. Porque eu quero sempre montar a árvore. Porque Frank Sinatra cantando "I wish you a Marry Xmas" me deixa inebriadamente feliz. Porque os cachorros passeiam nas ruas de gorrinho vermelho. Porque todas as fantasias giram em torno do natal (até as sexuais, e isso me dá um pouco de medo). Porque me remete aos melhores momentos da minha vida. Porque me permite passar os melhores momentos da minha vida. Porque me faz lembrar o quanto eu posso chorar diante da televisão. Porque me faz esquecer o quão duro esteve meu peito nos últimos tempos. Porque me faz querer cantar. Porque me faz dançar. Porque me faz partilhar. Porque me faz inenarravelmente feliz. É por isso que eu gosto tanto, tanto do natal.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Daquelas coisas que eu não sei lidar bem.

"Eu gosto de você
com uma força bruta
que não entendo bem."

(porque eu fico aqui sem palavras e nesses momentos Zeca fala melhor por mim)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Jeans.

Recebi ontem seu embrulho, mas não tive tempo de abrir. Corri e na exaustão que é digna das noites, rasguei o papel de seda. E perdi a voz. Não tinha rispidez. Tava com a cor desbotada que só os anos colorem. Tinha aquele cheiro de adrenalina tão característico dos sonhos bem vividos. Perdi o som. Abri a imponente porta do armário e joguei com repúdio todos os ternos no chão. Arranquei com desdém aqueles casacos pomposos do cabide. Nada diziam com aquele jeito de perfumes importados e sapatos comportados. Aqueles braços polidos que um dia os vestiram estavam nus de vergonha. Nus de lágrimas. E eu sentei naquele carpete engomado e a retirei do embrulho. Parecia que gostava da cena passional que se passava ali naquelas paredes de meia luz. Guardava meus segredos em meio a matizes de azul. E eu perdi as estribeiras, quebrei cadeiras e bati nos espelhos de água dos copos. Essas diretrizes que nada tinham haver com aquele pacote me violentaram naquela janela de luz. E nada mais se dizia. Borrei aqueles olhos pincelados de escudo. Busquei nos bolsos motivos de ratificação. Achei aquele bilhete primaveril que você me deu no inverno passado. E minhas lágrimas quase apagaram a “felicidade de borboletas no estômago” escrita com lápis de cor. E achei nossa moeda velha de apostas e me senti abraçada por todo aquele desgaste. E antes de abotoar os botões, nosso cheiro me ensurdeceu num grito de saudade. E vi ali, naquele corredor sem fim, que eu não quero mais o golden dream. Eu acredito mesmo é em jaqueta jeans. E me emociona encontrar alguém com uma e são nessas pessoas que eu confio. Obrigada por me tornar confiável. Obrigada por me devolver a minha velha jaqueta jeans.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

recado de batom no espelho

Can you please leave?
And don't forget to remove your fingerprints from my hips.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Anúncio.

Cansada de pensar por nós dois, eu rasguei um livro. Cansada de sentir por você e por mim, eu silenciei a música. Resoluta em acabar com seus sonhos infundados, resolvi te contar. Eu sim, sou o começo do seu fim.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

você agora.

Hoje eu acordei pra você. Acordei pra te fazer perder e me achar à frente. Eu me pintei de cores de seduzir suas pernas nas minhas cadentes de te fazer cair do rebolado. E me vesti de amores pra te prender no meu peito, mesmo que você, meio sem jeito, se prenda nos arames do nosso medo inconstante. Coloquei imãs na pele pra te atrair à minha parede carne quente do seu calor sensível. Corei o hálito do sabor do seu desejo que só quer o meu desejo, mas não sabe me dizer. Eu te beijo. Com a mesma boca que despertou pro seu sabor, que sente falta da sua língua e que passeia pelo seu pescoço sem medidas. Nesse nosso ritmo descompassado, com esse sentimento velado, eu só quero te seduzir com aquilo tudo que você quer ser seduzido no meu corpo. Não quero mais saber dos nossos amanhãs, eles já me fazem mal. Não quero te dar importância. Quero esquecer seus números, suas mãos e sua cor. Não quero lembrar da sua pele na minha e das matizes inebriantes dos seus olhos-estrela. Mas eu quero imprimir na ponta dos seus dedos todas as impressões perdidas na minha digital. Hoje eu acordei pra você. Hoje eu decidi não te perder. Mas a chuva desfez meus planos. Borrou meus desenhos cor púrpura, desfez meus laços, molhou meus sapatos. Hoje eu acordei pra você. Mas o mundo dorme lá fora.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

não tem fim.

Ontem eu fui ao cinema e não quis levantar quando o filme acabou. Os créditos finais me jogaram numa parede cálida e fria de solidão. Eu não queria que acabasse, eu não queria sair dali. Fiquei sentada, esperando a próxima sessão até o segurança me pedir para que eu me retirasse. Cheguei em casa e liguei o rádio. Tocava "full for your loving no more" e quando acabou eu me senti mal, mas não podia repetir a canção. E todo fim, pra mim, é assim. Independe de ser bom ou ruim, eu me sinto um filhote acuado, eu quero voltar, eu sangro. Eu tenho medo dessa felicidade não sabida, dessa tristeza velada me esperando na esquina. Odeio o dia seguinte. Por isso eu deixo pedaços no prato, esqueço sapatos e finjo não esquecer. Eu tenho medo. Eu me prendo com algemas, me martirizo com pensamentos e sofro. Eu não sei terminar, eu não sei despertar. Eu viajo e não quero voltar. Eu sonho e abomino o acordar. Eu me perco. Todo final me encharca de desespero. Mesmo ébria de certezas, eu não sei. Não sei mais o que vai ser de mim.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Honored.

Sabe aquele pecado gostoso de cometer em público? Pois é. Um convite repentino de uma mente incessante e interessante me fez sentir vaidade. E é sempre através de palavras que eu gosto de me sentir bonita.

Vejam se fiz bonito: http://blogdesete.blogspot.com/

Claudinha, quando eu te vi pela primeira vez, eu sabia que aqueles cachinhos tinham potencial. Eu acredito em Claudinha.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

15 anos.

Sentou para descansar na calçada azul daquela rua sem fim. Se foi tudo tão cansativo até ali, duvidava se teria coragem de se olhar no espelho no quilômetro seguinte. O vento incógnito despenteava seus laços de menina. Ela tinha medo. Faz de conta que já era uma mulher azul de céu, faz de conta que carregava histórias de filhos na bolsa (que nada mais eram do que bonecas, até então). Faz de conta que sabia ninar, que sabia cantar, que era morena furta-cor. Faz de conta que não ligava pros olhares que furtava no corredor. Inventava aquela infância de ontem, prateada da lua que sonhou nos degraus da escada do universo. Ela era tudo de impossivel que a tinha construído. E nem sabia de tais impossibilidades. Amargava naquele peito pequeno coisas efêmeras e gigantes. Não tem a mínima idéia do que estar por vir naquela estrada de passos tão certos que a assustariam se fossem contados. Quer tanto fazer parte de uma tribo que se perde na sua identidade. E borra a boca de batom. E lembra que os olhos ficam mais leves sem rímel. Descalça os sapatos e sente mais uma vez o vento que a lembrava de estar viva. Já não sabia se fazia sol, se aquela era a luz da lua. Sabia que não tinha como voltar. Sabia que tinha de seguir. Mal sabia que nem 7 mil milhas seriam capazes de trazê-la de volta àquela calçada. Se soubesse da saudade que ia sentir, teria ficado mais tempo. Mas ela levanta e sua velocidade ingênua a guia pelo asfalto. Ela faz de conta que é adulta e esquece que é criança. Ela não se sabe mais. Ela muta e tudo muda pra ela. Não sabe lá de muita coisa. Em meio a todas as dúvidas, sua única certeza é a de que precisa correr. A de que precisa crescer. Ela precisava saber que estava chorando por dentro. Ela tem apenas 15 anos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

T.endência P.ré M.egalomania

  1. Muito, muito, mas muito mesmo chocolate (que o diga as duas sobremesas Cake Ice Cream na Cremeria ontem)
  2. Excesso de carência - achando que meus amigos não gostam mais de mim, já que eu não tenho o tal do namorado pra fazer isso
  3. Tendência transbordante de hormônios - juro que eles gritam
  4. Desejo excessivo de colo - mesmo não sabendo pedir
  5. Vontade maluca de chorar - chorando até com propagandas de eleição
  6. Tensão gritando dentro - vocês conseguem ouvir?

Excessos excessivos de mim mesma.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

culpada.

Eu sou culpada. Culpada por todos os momentos que me privei de passar com você. Culpada por não ter seus olhos pertinentes pesando na minha carne. Eu assumo, a culpa é minha. A culpa é minha por essa saudade gelada invadir meu sono. É minha a culpa pelas três únicas cartas de amor entre as páginas dos meus dias. Por não ver suas cores de mim no peito. Por não sentir seu cheiro inconfundível de 5 da manhã. Por não sentir o gosto inebriante de nuvem no céu da boca. A culpa é minha por ter te traído em portas de banheiro. A culpa é toda minha por ter te culpado dos meus pecados. Por ter te usado como desculpa-máscara pra pecar sem me confessar. Por ter te usado. Por ter te feito culpado. É minha, só minha. A culpa pelas palavras ferozes, pelas reprovações desmedidas, pelas sentenças contidas, pelos olhos fechados e calados. Pelas suas madrugadas acordado. Eu sou a responsável pela sua blusa desbotada quase sem cheiro de tanto lavada. Por você odiar tudo que me lembra você. Pelo gosto amargo do fel na sua garganta. Pelas juras, promessas e esconjúrios. Pelas maldições. Pelas tradições (e traições). Pelas pegadas na escada. Culpada por seu peito cheio não ter preenchido o meu vazio. Pelas suas ilusões. Pela boca seca.
Sou eu a culpada dessa culpa. Desse arrependimento. Dessa certeza.
É minha e só minha. E não é minha a culpa pela sua felicidade. Por toda a felicidade que um dia você quis me dar e que um dia vai ter. Eu não a mereço. Eu não te mereço. Sou réu confessa do seu penar. Eu sou culpada.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Crença.

Há uma certa magia instrínseca nos dias. Quando tudo nasce, ali, no pós-caos da estrela, há pó de magia-vagalume-beleza. Em todos os acontecimentos, em todos os pedaços, por trás da barra da saia, embaixo das pernas, tá escondidinho. Na comunhão das formigas com o açúcar do bolo, dos olhos com a perdição do infinito, da minha mão com a sua, tem um toque de varinha de condão. Na eucaristia da vontade de ver com o medo de enxergar, da preguiça de andar com a benção do sol, ali, na sombra da varanda, eu sei que tem algo a mais. É a tradução dos seus pensamentos em palavras. É o reflexo dos meus olhos nos seus com maré de poesia. É tudo que de fantástico acontece quando eu vejo que o sol raiou com você do meu lado. É a certeza que eu tenho de que você abre todas as minhas portas. É a cólera diária que precede a nossa calmaria noturna. São os segredos de pé de ouvido. Eu não te escondo. Você me exibe. Com aquele sabor de orgulho que só as nossas palavras têm. Droga, esqueci o despertador ligado. Você não se importa em acordar e me ver. É isso que me faz acreditar em fé e energia. É o sublime ressonar de um miado de bichano do meu lado. É aquele poder que só você tem. É aquela delícia que só você guarda. É por isso que eu acredito em magia e duvido todos os dias de tristeza.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

um.

Um novo. Uma ausência de olhar. Uma presença de pensamento. Um toque. Um cheiro. Uma dúvida.
Uma boca. Um sabor. Um gosto. Um tal de medo. Um beijar. Lamber um. Fechar os olhos. Um. Sentimento. Saudade. Uma. Vontade de congelar. Um momento. O...
Um carro, um banco, um público, uma sintonia. Uma sinfonia. Um dado, um fato, uma distância. Um destino que não sabe o que faz. Uma muita sapiência. Uma vez. Uma presa no eixo. Um levado pela estrada. Um nós dois. Um mês.

Carajás.

Entre árvores, há passos leves que sussurram folhas.
O sol gera frio nas sombras.
São as folhas que sombreiam pelo sol.
E nada queima. E tudo flui.
As risadas são barulhentas no silêncio.
É o lirismo das tocas dos coelhos.
É a magia do contato. É não sentir fome de felicidade. É o que a terra nos instiga. É o cheiro do mato.
Na comunhão de todas as coisas com coisa alguma, brota o desejo de ver o tempo passar.
Talvez os três elementos de algumas florestas sejam as folhas, o conforto do sol e o mistério das sombras.
Nunca foi tão bom deitar no chão...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Manias - II

Eu vejo palavras no silêncio. Considero o sono perda de tempo, mas a ausência dele me perde no mundo. Sim, minhas orgias gastronômicas estão em caviar. Sacio fome com prazer. Hipocondria me acalma. Tem certas dores que eu gosto de sentir. Tenho pavor de sentir medo. Não sou fã de receber carinho, mas adoro fazer cafuné. Açúcar não faz parte da minha vida. Meu violento instinto de defesa macula a minha essência. Caço desesperadamente a suavidade. Ser intensa demais me impede de achar. Minha bipolaridade me entrega. E me diverte. Só tiro o salto pra subir na cama. Vodka me transforma em glamour. De dia, queria estar sempre ao sol. Mas à noite, estou sempre na rua.

Manias - I

Eu vejo cores em momentos. Prefiro pensar a falar. A gramática me acompanha. A impotência me domina. Bolsas caras me fazem companhia. Blusas velhas passeiam comigo. Eu adoro cheiro de mofo. Tutti-frutti me irrita no som e no gosto. Minha generosidade me incomoda. Gelo é excitante. Celular me transmite seguramça. Madrugadas me brozeiam mais que sol. O escuro tem magia e brilha. O dia também. Cigarro fede e faz parte de mim. Sou viciada em cheiros. A morte me intriga. Peixes me entediam. Bebo água em copos de plástico. Prefiro cerveja a refrigerante. Drogas me fascinam. Submundos me atraem. A felicidade me assusta. Não tolero cabelo escovado. Não moro na praia. Se pudesse, passavao dia no mar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ode ao prazer.

Pinga.
Pinga aqui no meu copinho.
Sua lágrima salgada de ardor.
Deita.
Deita aqui no meu colinho.
O seu corpo lambuzado de torpor.
Chora.
Chora aqui no meu ombrinho.
Eu posso te curar com meu amor.
Enrosca.
Seu pequeno pescocinho.
No meu peito moreno de calor.
Cola.
Cola aqui o seu rostinho.
Na minha faca afiada de suor.
Suga.
Suga todo esse carinho.
Com seu hálito abafado de horror.
Vem.
Vem cadente, vem suado. Come o meu dobrado, me deita de lado, me joga no telhado e me faz esquecer Conta, assim, sem chiado, o que eu tenho que lembrar. Conta aqui baixinho no meu ouvido. Conta pra mim que eu sou mulher.

(Me joga na parede e me chama de lagartixa. Who knows?)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Eu-lírico (ou a saga de Clarice e Marise)

Com 13 anos:

Clarice: Ai, Marise, você é tudo o que eu desejo ser.
Marise: É, e eu faço tudo o que você quer também. Uso as melhores roupas, sou mais le-gal, apesar do band-aid na testa.

Com 15 anos:

Marise: Ei, Clarice, acorda, querida. A vida taí ó, do seu ladinho e você desperdiçando o tempo em camas de hospital. Levanta logo.
Clarice: Ah, me deixa dormir. Isso tudo tá doendo demais.
Marise sai de férias.

Com 18 anos:

Clarice: Ei, Marise, eu sei que você tava de férias mas acho que você tá exagerando na dose. Me deixa voltar.
Marise estava "alta" demais pra responder. Fechou a porta e deixou a Clarice pra fora.

Com 20 anos:

Clarice: Marise, você vai sair?
Marise: Vou! E prometo me divertir por você.
Marise saía. Clarice quase sempre ficava em casa.

Com 21:

Marise: Cla, você tá trabalhando demais.
Clarice: Quero férias.
Marise: Ah, eu quero praia-sol-mar-breja-e-amigas. Tem como dar errado?
Clarice: Não! Me leva com você?

E ao longo dos anos elas se fizeram companhia e se odiaram. Elas vão viajar juntas pra Itacaré. Elas vão se tornar uma só.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Quando ela decidiu

Ela tem tanto medo. E tem medo do que pode ser. Senta na calçada e pensa porque não tem palavras a menos ditas ao vento. Ressente momentos de silêncio. Ressente momentos de mais nada. Acende um cigarro e aquela labareda intensa que queima o ar frio. Nesse conflito libertador, recrimina as risadas ecoantes que insiste em dividir. Aqueles olhares irônicos, aquelas pernas cadentes. Enxuga as lágrimas. Pensa que podia ser assim, bem mais ou menos, café com leite, mamão com açúcar. Por que nasceu decidida a ser radiante? Quer mesmo sentir pela metade, quer férias daquela intensa magia maculadora. O torpor daquele momento adormece seus pés. Não há nada que possa expurgar aqueles pensamentos? "Pensamento que vem de fora e pensa que vem de dentro. Pensamento que expectora o que no meu peito penso. Pensamento a mil por hora, tormento a todo momento...". Não! Ela se impede de pensar. A calçada já é áspera com sua angústia. Nem pra se repudiar ela consegue ser uma mulher amena. Aquela busca, aquele anseio, ela tem medo do que se transformou. Foi ali naquela esquina que ela decidiu. Quando o mundo dividiu-se em seus dois pedaços, ela descobriu que preferia ter sido amada do que ter alguém. Ela escolheu naquela tal encruzilhada que preferia morrer de amor do que de conforto. Ela sabia que preferia amar do que ter companhia. Ali, naquela calçada gelada, do lado certo, da vida errada, ela descobriu que não queria ser nada. Ela decidiu ser um furacão.

Duvida?

Tem uma dúvida que me assola há vários dias.
Será possível afogar uma pessoa com um conta-gotas?

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Importa?

Eu até arrancaria sua roupa agora.
Mas chove tanto lá fora.
E eu esqueci de escovar os dentes.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Abololô

Haviam tantos Marcelos, tantos Renatos e Tiagos que poderiam ter sido. São tantos os Pedros, tantos Joãos e Josés que poderiam ter ido. Mas em meio a tantos Danilos, Andres, Antônios e Felipes, foi você quem veio. Com esse jeito calado, sentou aqui do meu lado e não pediu licença pra ficar. E foi tomando meu espaço e sem eu perceber, se tornou um pedaço desse vidrado olhar. Tão vidrado em você que nem lembrou de esquecer tudo mais que havia ao redor. E não percebeu que estava guardado, ali no fundinho, o perigo, em seu cheiro, pernas, pés e umbigo. Você assim, com esse jeito moreno, esse abraço pequeno e areia nas mãos, me perdeu na estrada, na esquina quebrada, na contramão. Agora fico aqui, com esse sentimento a mil por hora, que me toma sem demora e me faz esquecer a hora de desligar o fogão. Amo então a toda velocidade, com intensidade, vontade e paixão. Questionando minha sanidade, peço assim, de verdade, não quebre meu coração. Porque eu me perdi nos seus passos, entre beijos e amassos, no laço de aço do seu cordão. E não quero me encontrar. Quero sentir meu peito sem ar, com teus braços me apertando pra sufocar. Eu não quero pensar, não quero perder. Me deixa sonhar. Esse peito já não sente em mais nada. Topa qualquer muro, pedra e parada. Desse jeito rasgado, só exige você ao lado. Você, que de mansinho mudou matizes, odores e raízes, me deixa assim, irracional, sem saliva na boca e com rima banal.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Partida

Eu me perdi ali, naquele exato momento em que seus olhos umideceram os meus. Eu, assim, tão cheia de mim, tão certa de meus passos, perdi o rebolado. Eu não te perdôo pelas palavras que estão sussurradas no meu pescoço. Não te perdôo por me permitir adormecer no seu peito moreno. E agradeço por ter desviado o olhar. Agradeço por ter me feito sentir medo. Mas repudio tua partida. Eu me perdi. E sei que posso me achar nas tuas pernas. Perdi ali um pedaço nosso. Você podia ter outro som, você podia não ler minhas antíteses tão bem tecidas. Você podia ser menos você. A culpa é do hipnótico cheiro de maresia. Eu, tão senhora de meus sentidos e anseios, esqueci de esquecer. Quanto momento há nessa magia. Nada se diz nessa janela de luz. Eu morri de amores uma noite por um poeta. Mais na frente, eu esqueço de lembrar.

domingo, 17 de agosto de 2008

Eucaristia

"Precisa não afobar
Precisa ser bem animal
(...) Nobremente
Morder lamber cheirar fugir voltar arrodear
Lamber beijar cheirar fugir voltar

Pregava que fazer amor era uma eucaristia
Que era uma comunhão

Foder é um ato religioso"

Manoel de Barros

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Tem uma música que diz assim ó

"Something's glistening im my imagination
Motivating something close to breaking the law
Wait a mo before you take me down to the station
I've never known a one who'd make me suicidal before

He was so beautiful, but oh so boring
I'm wondering what was I doing there
So beautiful, but oh so boring
I'm wondering if any out there really cares (...) "


Como diria um sábio muito sábio da terra dos sábios, por fora bela viola, por dentro pão bolorento. A-do-ro ditos populares.

Sabe o que mais me agrada na dor?

O alívio que eu sinto quando ela passa.

Plaquinhas

Plaquinhas são muito úteis, sabe? Muito úteis. Evitariam muitos dissabores se fossem devidamente utilizadas. Por exemplo, às vezes, numa conversa gostosa, você solta uma piadinha super inteligente e o interlocutor te olha com aquela cara de "hã?" constrangedora que faz a sagacidade perder todo o sentido, quando você se vê obrigado a explicar a tal piadinha. Nesse caso e com esse tipo de pessoa, o ideal seria ter uma plaquinha "Estou apenas brincando", o que evitaria o desperdício da piadinha, da sua brillhante sagacidade e do seu tempo ao constatar tal pessoa. Outras vezes, vc tá lá, com aquele outro tipo esquisito da espécie, que teima em entender um sim, quando tudo o que você realmente quer (e diz!) é que ela entenda um não. E esse tipo de pessoa, eu costumo denominar de pessoa-polvo, pois parecem ter tantos braços, tanta força, tanta gosma que, argh, dotam-se de tentáculos. Com essas, usaria-se uma plaquinha "Eu realmente tenho a intenção do que digo". Essa super plaquinha evitaria pelo menos que você entrasse em contato com a supergosmamelequentadepessoaspolvo. Mas calma! As plaquinhas mais úteis são as de DENOMINAÇÃO.

Denominações imprescindíveis:
"Sim, eu pareço legal, eu cheiro legal, eu mexo legal, mas eu não sou legal"
"EU SOU IM-BE-CIL"
"Coitado de mim, eu acho que valho alguma coisa"
"Eu sou um sanguessuga"
"Eu vejo normalidade em escatologias" (essa é assim, top 5)

Denominações importantes
"Eu pago o primeiro encontro, mas depois finjo esquecer a carteira em casa"
"Eu tenho uma tendência patológica a me ofender com tudo e com qualquer coisa"
"Eu sou uma pessoa carente, minha mãe me donima e vou te fazer mal"
"Eu não presto, mas posso te dar uma felicidade-efêmera-que-vale-a-pena"
"Eu sou a pior idéia pra você ter na sua cabeça"
"Eu não.faço.bem."

Denominações de cunho relevante
"Eu gosto que sirvam meu prato"
"Eu falo palavrão na cama" (vai saber né...)
"Eu tenho fantasias bizarras"
"Eu gosto do Jorge Vercilo" (uiiiii)
"Eu danço como um grilo"
"Canto como uma cigarra sem amígdalas"
"Eu como com as mãos e chupo os dedos depois"
"Tomo sopa fazendo barulhinho"
"Seguro xícaras com o mindinho levantado" (essa também se encaixa em denominações imprescindíveis)

Denominações necessárias
"Sim, eu sou tudo o que você está procurando de verdade"
"Eu não vou virar abóbora depois da meia-noite"
"Se você me beijar, eu não viro sapo"
"Sua mãe realmente te vê com uma pessoa como eu"
"Sim, sim, eu sou tudo isso que você está pensando mesmo"
"Não tenha medo. Eu vou fazer você feliz"

E muitas outras plaquinhas. O intuito verdadeiro dessas meninas levadas é evitar um longo espaço de desperdício de tempo. Se essa tal de vida é curta e se realmente não temos tempo a perder, proponho uma passeata pela implementação do uso de plaquinhas!

Cansei de perder o tempo que eu não tenho e ter aqueles momentos de "meussantodaime, aonde estavam as minhas lentes de aumento mesmo?".

*Momento regozijo felicidade plena feliz

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Água

E tem horas que a gente se sente assim. As veias azuis saltam a testa, sobe um bolo de pêlo pela garganta, a voz desafina. Uma espécie de afogamento interno. Evitando a morte, as lágrimas brotam sem permissão. Você luta contra elas, mas é pior. A pele se tonifica num vermelho-vergonha e tudo muda. Malditas veias entregadoras. Se o corpo não fosse 80% água, eu choraria pedras agora.

Vício

Dizem que coca-cola é droga e vicia.
Ando me viciando nas erradas.

O que conforta

  • "Hoje vejo que realmente não daríamos certo. Você é demais pra mim"
  • "O silêncio entre nós não me incomoda"
  • Acordar depois do meio-dia
  • Esquecer de lembrar
  • Minha mãe na porta
  • Bolsas grandes
  • Travesseiros fofinhos
  • Pedaços de queijo (de todos os tipos)
  • Amigos na barra
  • Tardes de sábado
  • Zeca Baleiro
  • Vícios
  • Queijo ralado... muito queijo ralado
  • Telefonemas a qualquer hora
  • Mensagens de madrugada
  • Bilhetes de amor
  • Amor
  • Certeza concomitante de pensamento
  • Companhia
  • Blusas macias
  • Meias quentinhas
  • Cachorro dormindo no pescoço
  • Cheirinho, pescocinho, pelinha e tudo que diz respeito a bebês
  • Conslusões e soluções
  • Trabalhoferradoqueexpulsatodosospensamentosdacabeça
  • Números
  • Formigas andando em fila no bolo de chocolate
  • Iguanas em hotéis
  • Andar de carro
  • Música andina
  • "A única coisa que não tem perdão, Clarice, a única coisa que não tem solução, é a morte"
  • Palavras molinhas
  • Companhia (e o simultâneo desaparecimento do medo da solidão)
  • Amigos de longe
  • Quarto de hotel
  • Dormir na praia
  • Morrer de amor
  • Ficar de pilequinho
  • Sentir medo e fazer
  • Lagostas em Fortaleza
  • Amigos tão perto

Por mim, todas as coisas do mundo podiam ter cheiro de maçã verde.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Da Mirella.

damaged people are dangerous because they know they can survive.

Sacou?

Lágrimas

Eu pensei em chorar no exato momento em que senti a dor.
Mas esta foi tão atroz, que posterguei o choro para quando ela passasse.
Uma vez passada, quis gozar do alívio. E no gozo, o choro, novamente, não coube.
Quis chorar em noites cálidas de solidão cortante. Mas tive medo do frio congelar as lágrimas.
Quis chorar em dias quentes demais, quando o calor parecia me sufocar. Mas, se as lágrimas iam evaporar, pra que derramá-las?
Quis chorar pra aliviar, pra cansar, pra sentir-me um pouco humana. Mas percebi que a angústia me transforma, que o descanso me mantém em pé... E que, às vezes, ser humana deve ser chato demais.
Queria chorar agora e nem sei porque.
Me ensina?
Ando gastando paredes com meus pensamentos.

Me ajuda a olhar?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Sol

Ela guarda tempestades no céu da boca. Ensina, todos os dias, que a vida é feita de nuvens, algodão doce e tontos sons. Tem na cartilha que a vida é feita de coisas bonitas, margaridas no campo, formigas pequenas e laços de fita. Ela é magia. Preenche o espaço sem estar. É um trovão. Faz da cama tocas pequenas de coelhos peludos e macios. Tempera pratos, atos e fatos. Tempera, assim, meu coração. Sai todos os dias pra descobrir seus erros. Come pão molhadinho de café. Ama sincero, sem medida e posso jurar que dentro daquele armário vazio, esconde uma varinha de condão e uma bola de cristal. Por que estar sempre certa? Porque estar sempre certa, pra ela, é normal. Ama meus sorrisos, meus trejeitos, meus passos pesados, meu avesso, meu ciso e meus pés. Ninou minhas noites com Chico, Caetano e tudo mais que pudesse lembrar ideologias e revolução. Ela pensa! E guarda tempestades no céu da boca. É a certeza de felicidade ao entrar em casa. Prefiro um mundo sem chaves com ela na porta. Menina da janela. Da minha janela de partida. Do meu cais de chegada. Sempre me pergunto como cabe ali, naquele peito moreno, tanta sabedoria. "Mas seus olhos castanhos me metem mais medo que um raio de sol". Acorda meus sonhos em silêncio com amor de vitamina de banana. Num amor tão sinestésico, me quero criança, quero ser sempre a criança na barra da saia dela.

No meu dicionário, Solange é assim:

Amar+é+acordar+cedo+pra+fazer+a+vitamina+de+banana, violeta, dourado, glamour, verdade, voz alta, risada fácil, felicidade pura, intensidade, Eduardo Galeano, Ítalo Calvino, palavras difíceis, excertos de Quintana, força, menina+levada+que+come+doce+todo+dia, cabelos compridos, pés no chão, molho de tomate, Chico Buarque, letras incompletas de músicas, canções de ninar, nuvem, inteligência, paixão, alguémquegostatantodamaluquantoeu, barra da saia, proteção, aconchego, travesseiro, tardes ensolaradas, aurora, via láctea, 6, voz, Rita Lee, abraços, inteira, segredos, surpresa, momento+exato+antes+de+entrar+na+festa+de+aniversário, brava, espelho, gatos, hippy, tiazona-caretona-que-já-foi-pra-algodoal, pureza, cheiros, massagem no pé, amor.

E é tão mais. Mas é tudo pra mim.

Feliz ano novo, Sol.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O fim.

Tudo acabou assim, num triste filme noir.
Saíste do cinema e eu fiquei te guardando o lugar.

A-b-c-dário

H

Tinha o nome bem feio. A figura também. Mas me chamava de boneca de porcelana e certa vez socou um muro por mim. Foi a grande salvação em momentos de angústia. Disse palavras doces à sua maneira e vez em quando surge. Ensinou coisas de carne e me beijou em frente a igrejas. Quando eu preciso de colo, é o refúgio mais seguro. Eu quebrei seu coração.

B - 1

Tinha gosto de mar. Tinha sabor de areia. Foi a coisa mais fulminante que esse peito já sentiu. Fazia planos de Londres. Falava de filosofia. Quando eu esbravejava à distância, me calava calmamente com um "eu te amo". Invadiu meu peito sem licença. Reprovou meus atos infantis. A vida nos separou como deveria ser.

E

Era uma coisa de pele. Um cheiro, uma língua, dois corpos e o mundo. Tinha vontade de mim. A gente se untava com ungüento. A amizade ainda bate forte em nossos peitos.

L

Éramos um e dois e muitos. Éramos imã. Éramos pernas, escadas, saliva e perdão. Éramos música, bateria e violão. Tínhamos pouco tempo. Éramos mudança, anseio e cigarros. Éramos ensaio, luz e platéia. Éramos tanto que doía. Fomos lágrima e medo. Fomos nossos. Éramos demais um pro outro.

D

Nós nos amávamos em Shakespeare. O amor já existia, só esperou por nós. Ele me amava com olhos, desejo e admiração. Ele não acreditava em me ter e se boicotou. Ele, sem saber, maculou um pedaço do meu coração. Fez meu peito de palco pra uma platéia sem palmas. E me amou todos os dias que eu precisei. E me buscou, me quis, me pediu pra mim. A mutação do amor fluiu. Somos felizes com a certeza de que nossos paralelos vão se encontrar no infinito.

L

Tinha um mundo inventado por medo de rejeição. Eu o amei mesmo depois da farsa. Ele quis me dar uma casa, um filho e amor. Nossos sonhos se perdiam em cigarros. Foi minha primeira luta. Num bar vazio, uma amiga, bacardi e a insistência. Ele quis gritar ao mundo! Meus temores apagaram essa memória antes dela existir. Restou um anel e a certeza do meu primeiro (e até hoje único) arrependimento. Eu devia ter fugido com ele.

B - 2

Foi minha maior busca. Foi meu maior erro. Foi a minha grande frustração. Foi eu perdida num céu claro sem estrelas. Tudo era tão óbvio. Tudo ali, a meus olhos, ao alcance do nariz. O entendimento de felicidade inventada. A compreensão de que momentos bons podem ser mera conseqüência de uma convivência. Ele roubou um ano da minha vida. Arrancou do meu peito o que havia de melhor. E me transformou no que sou hoje.

R

Foi tudo de melhor que podia ser. Via em mim o frescor de uma vida nova e excitante. Via em mim sua salvação. E se ateve a meus braços, roupas e sentidos. E agarrou minhas pernas. E teve medo de me perder. Pesou seu corpo no meu e caiu. Eu estava muitos passos a frente. Sem a queda, poderíamos ter sido felizes por mais tempo.

P

Dizia no meu ouvido tudo o que eu queria ouvir, mas tinha medo de escutar. Eu estava com as portas fechadas. Com as janelas trancadas. Eu tive medo. Eu tive medo de gostar de novo. Eu perdi. Perdi discussões, perdi sorrisos, perdi o gosto forte do café com o cigarro. Perdi um peito-travesseiro. E decidi abrir minhas portas pra nunca mais perder o que poderia ter tido. Ele ainda ronda meus sonhos e telefonemas. Ele ronda minha rua embriagado de madrugada.

D

Eu tentei ter o coração aberto. Tentei destrancar as janelas e deixar as portas entreabertas. Ele tinha os dedos afiados nos meus quadris. Tinha os olhos atentos a seu medo e buscou motivos, enquanto eu me permitia. Mas eu só tinha um buraco no peito. E ele uma faca. Tranquei as janelas, cerrei as portas e joguei as chaves fora.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Você ainda vai tropeçar no seu orgulho e cair na minha cama

Eu tenho um buraco aberto no peito. Um prego foi responsável por ele. A ausência do prego por muito machucou de morte esse peito aberto. E você se achou no direito de pegar sua faca e reabrir essa ferida. Você chegou de mansinho, me colocou no seu colo e achou que podia brincar. Esburacar, meu amigo, não é brincadeira. Um peito aberto merece respeito. Uma dor merece atenção. Mas você só conseguiu olhar por sobre esse vão e esqueceu de enxergar o peito que o forma. Muitas dores são sem valia. Muitas palavras nada dizem. Mas eu quis acreditar. Quis crer que você não tinha uma faca. A ilusão me deu imagens agora desagradáveis de um sopro acalentador na ferida recorrente. Eu me entreguei, você me usou. E estabelece um jogo diário sem time, sem dupla, sem regras, sem padrões. Não movi minhas peças, mas você continuou fazendo seus pontos. Eu não sou um tabuleiro de xadrez. Tire suas mãos sujas de lama da minha côxa. Arranque dos meus quadris seus olhar de desejo reprimido. Destrua as palavras dúbias que ainda moram no meu ouvido. Não me deixe mais permitir você me invadir. Eu me ative a fios de teias, você as teceu sem licença. A queda, meu amigo, não faz parte de mim. A fumaça do seu cigarro não vai dissipar a impureza do seu caráter. O encontro de retinas é sombrio. E você tinha uma faca. Fez uso dela sem parcimônia e esqueceu que feridas abertas incomodam. Você tem, agora, suas mãos sujas com meu sangue. Pode disfaraçar, lavar, limpar, mas o cheiro do metal ensanguentado não vai sair de você. Você ainda vai lembrar do som do meu sorriso e da cor da minha escova de dentes. Seu jogo não me engana mais, não me perturba mais. Estabeleça quantos contatos telepáticos quiser. Pule na minha mesa e rasgue meus papéis. Atropele meus passos sem pressa, sem medo. Conte segredos ao vento pra que eu possa escutar. A ferida faz parte de mim. Sua faca não me mete mais medo. Eu sentei e fumo meu cigarro. Você ainda vai tropeçar no seu orgulho e cair na minha cama.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Gotas.

Tinha os pés no chão, mas a sandália preta de verniz trançada no tornozelo dava o ar de flutuação que lhe era peculiar em dias noturnos. Amava a noite, mas morria de medo do escuro. Sentada, era acompanhada de um copo vazio de whisky e do cigarro interminável que alternava entre as mãos. Aquela cena era repetida e, ao pensar nisso, um vento gelado tomava conta do seu peito sem licença. Sentia falta de um hálito quente e palavras raivosas. Sentia falta de colo e silêncio de ninar. Ela se sentia sozinha. A busca incessante a violentava, mas não tinha mais o controle. Não sabia mais como parar. O som de sua risada ecoante parecia calar os pensamentos e temores que assombravam sua vontade de esquecer. Valia-se desse recurso em curtos intervalos na fuga do não pensar. Não doíam as pernas, a cabeça, a alma. Ela doía. Mas os pensamentos invasivos teimavam em não abandoná-la. Então, cantava. Usava cada palavra pra si e relembrava os hinos que um dia embalaram suas lágrimas. Ela fugia. E sabia do que. E não sabia pra onde. Imagens turvas e diabólicas cerravam seus olhos involuntariamente. Ela só queria não lembrar. Pensava nos tantos momentos em que desejou esquecer de tudo na ânsia de recomeçar. Não queria mais doer, não queria mais sentir. Algumas vozes se aproximavam do que ela queria ouvir. Mas palavra nenhuma tinha o som de acalmar que lhe era vital. No desequilíbrio que o álcool mesclava com os degraus, ela dançava. E mexia seu corpo na tentativa frustrada de se imacular. Na tentativa de adquirir novas formas, novas marcas, novos pedaços. Na tentativa de mudar a composição da matéria. Daquele pó espalhado, se desejava matéria unida. A menção da mesma voz dizendo tudo o que um dia teve o poder de desejar ser ouvido era assombrosa. Então, falava. Contava da felicidade que queria ter, das magias que queria ver e de todos os outros momentos que eram seus, mas não lhe pertenciam. A consciência solitária dessa farsa a fazia perder o ar. E ela doía. Chamava olhares com seus movimentos, implorava com a alma por ser desejada, olhada, querida. Mas qualquer aproximação despertava todo o temor e a raiva guardados em seu ventre. Mas queria ser entendida. Rogava por algum entendimento da sua dor. Repudiava a pena. Ela mesma não entendia o doer. Tinha medo e era isso que ainda dava a sensação de vida. Laçava o medo em suas pernas e se atinha a ele por querer viver. Aprendeu a conviver com a dor. As máculas a transformaram e mutaram seus trejeitos. Ela não sabia se gostava. Só se ensinou a conviver consigo mesma. E doía. O peito já não era mais ôco. As memórias não tão recorrentes já estavam esquecidas. Aquela ausência a ensurdecia num grito de saudade. Amar já não era mais normal. Encheu o copo e acendeu mais um cigarro. Naquela noite sem estrelas, gotas de felicidade doíam mais que suas tempestades de tristeza.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ms

"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu..." - Chico sempre tem toda razão. Mas não interessa como nos sentimos, o dever chama e temos que acordar, ver um céu azul e trabalhar. Produzir é o real prazer dessa arte? Talvez. Mas as peculiaridades de um ambiente são o que sempre o tornam interessante. Em meio a baias, portas que só se abrem com o passe mágico de um cartão, um chão que treme com meus passos pesados e umas garrafinhas de água que, juro, têm um gosto horrível de plástico, as minhas horas na Thomson (não ThomPson) Reuters (que sim, se fala roiters) são deliciosas pela presença dos Ms. Um M ao lado. Um M longe. Hei de admitir que ambos, sim, ambos foram muito difícies de conquistar. Mas ah... o exercício da conquista é sempre excitante. Toda vez que eu me sinto como que morrida, dilacerada, eu levanto com a certeza de que vai ter alguém do meu lado que sempre se admira com as minhas perguntas (não por serem instigantes, mas por serem óbvias), mas que sempre me ensina tudo com a maior paciência do mundo. Que me emprestava R$3,25 pro cigarro quando eu não tinha nem R$0,01, que divide o molho da salada comigo, que me abraça quando me vê chorar, que tem lapsos súbitos de amor por mim, mas sempre que pode, me repudia porque sabe que assim vou amá-lo mais e mais. Ele gosta de coca quente (ou será pepsi?), tem umas idéias malucas que eu sempre tento demover, chama o Chico de bicha toda vez que eu insisto em fazê-lo ouvir uma música no final do dia e tem uma visão pessimista das coisas bem oposta a minha. Mas ele colore os meus dias. Faz magia das nossas horas e torna toda a convivência em momentos quentinhos de bolo quente com café. Ele me faz querer ser melhor e trabalha meu lado mais altruísta.
Tem um M lááaa longe que dia desses eu descobri que não tinha ido tanto com a minha cara assim. Mas fui ler em seu blog um post sobre a Gi e tinha um comentário falando que as amizades dela sempre começam com esse ar de "não-fui-com-a-tua-cara". Sinceramente, não sei quando começou a ir, mas hoje é uma coisa de bonds e música que faz feliz e acalma o coração. Ela me dá uma segurança de estar ali do outro lado, da certeza de que eu posso chorar só 5 minutinhos no elevador, de segredar coisas no corredor e de palavras soltas, de cabelos ao vento e mãos coloridas, que me remetem ao melhor que eu já fui e ao melhor que posso ser. Com ela, de fato, o mundo é uma cápsula quentinha e feliz.
Eles me fazem voar e eu adoro a sensação dos meus pés fora do chão.
Mi e Max, vocês me fazem querer ser melhor. Vocês são o vale a pena de todo dia.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Guerra.

Ás vezes tendo a achar que a vida é uma encruzilhada sem fim. Os passos se seguem, os pés caminham e cá estou eu, de volta às mesmas indagações já feitas, sofridas e odiadas. Repudio a idéia de talvez aceitar que a guerra dos sexos realmente existe e que, mesmo a contragosto, eu faço parte de um dos lados da batalha. A recorrente frase "as mulheres são todas iguais" tem um poder fulminante de me tirar do sério. As mulheres não são iguais. São únicas. E, sim, diferentes. Nós analisamos, pensamos e sempre treinamos nossos atos para que os falhos e reflexos não se repitam. E eles não se repetem. Mas a conclusão clara e fácil é de que não adianta, eles podem não se repetir nunca mais, os outros combatentes sempre vão vir com armas letais e perniciosas para desarmar a nossa estratégia. O mundo é sim cruel. Injusto nos dias mais injustos e talvez com os corações mais molinhos. A sensação de nunca saber ao certo o que fazer é angustiante. Faltar o ar, perder o chão e cair mais uma vez. O coração estúpido parece não aprender. Aprende, até. Mas esquece tudo de novo no minuto seguinte. Quase como a memória relâmpago dos peixes. Conclue-se, por conseguinte, que se as mulheres são todas iguais, os homens são todos diferentes.

"AS MÃES E AS GUERRAS
Se dependesse das mães,não haveria querra!Mas as filhas preferem os soldados..."
Mario Quintana

Mas não há como saber se os soldados são inimigos ou aliados sem entrar em guerra com eles.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Amar - I

Qualquer coisa feita com a alma do coração, cores, memórias olfativas, músicas que dóem, risos sonoros, deixar, ceder, dividir o último pedaço do prato, último pensamento antes de dormir, primeiro pensamento do dia, ponto final. Não dormir, não cansar, cansar, cansar muito, enjoar, arrependimento, clausura, pecado, alimento, vazio, profundo, inapetência. Deitar em pé, sentar em pé, ficar de pé. Pé com pé. Gostar de frio. Importar, esquecer, mundo, mudo, mudar, sensação, cheiro de bolo de maçã, histórias, palavras, silêncio. Sentir saudade e gostar. Sentir saudade e doer. Doer de saudade. Lágrimas evaporadas, sopros, vento nos cabelos, imagens, areia fofa, abdicar, sorriso perdido de lembrança. Perder-se. Encontrar. Metade, metade inteira. Difícil, felicidade, dúvida, insegurança, criança, filhotes, morango com creme de leite. Azul, 1, pão de queijo e guaraná. Cozinha, sala, quarto, banheiro e chão. Paredes. Saudade ao lado, falta de 5 minutos, segredos públicos, cura, alento, aventura, filhos. Manhã de sábado, chocolate quente, sopa de letrinhas. 2. Pensar, pensar, pensar, esquecer. Mãos dadas, grama verde, madrugada, café. Acordar cedo pra fazer a vitamina de banana. Desejo, travesseiro, sonhar, maçã verde, bolo quente, fumaça. Começo. Estrada. Santo. Normal.