segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Quando ela decidiu

Ela tem tanto medo. E tem medo do que pode ser. Senta na calçada e pensa porque não tem palavras a menos ditas ao vento. Ressente momentos de silêncio. Ressente momentos de mais nada. Acende um cigarro e aquela labareda intensa que queima o ar frio. Nesse conflito libertador, recrimina as risadas ecoantes que insiste em dividir. Aqueles olhares irônicos, aquelas pernas cadentes. Enxuga as lágrimas. Pensa que podia ser assim, bem mais ou menos, café com leite, mamão com açúcar. Por que nasceu decidida a ser radiante? Quer mesmo sentir pela metade, quer férias daquela intensa magia maculadora. O torpor daquele momento adormece seus pés. Não há nada que possa expurgar aqueles pensamentos? "Pensamento que vem de fora e pensa que vem de dentro. Pensamento que expectora o que no meu peito penso. Pensamento a mil por hora, tormento a todo momento...". Não! Ela se impede de pensar. A calçada já é áspera com sua angústia. Nem pra se repudiar ela consegue ser uma mulher amena. Aquela busca, aquele anseio, ela tem medo do que se transformou. Foi ali naquela esquina que ela decidiu. Quando o mundo dividiu-se em seus dois pedaços, ela descobriu que preferia ter sido amada do que ter alguém. Ela escolheu naquela tal encruzilhada que preferia morrer de amor do que de conforto. Ela sabia que preferia amar do que ter companhia. Ali, naquela calçada gelada, do lado certo, da vida errada, ela descobriu que não queria ser nada. Ela decidiu ser um furacão.

Um comentário:

.mãos coloridas disse...

por isso que faz muito mais sentido quando os furacões tinham nome de mulher.
bêjo, cla.